Para evitar que houvesse rebeliões, os senhores brancos agrupavam os
escravos em senzalas,
sempre evitando juntar os originários de mesma nação. Por esse motivo,
houve uma mistura de povos e costumes,
que foram concentrados de forma diferente nos diversos estados do país.
Os escravos possuíam suas próprias danças,
cantos, santos e festas religiosas. Aos poucos, eles foram misturando
os ritos católicos presentes com os
elementos dos cultos africanos, na tentativa de resgatar a atmosfera mística da pátria distante.
O contato direto com a natureza fazia com que atribuíssem todos os tipos
de poder a ela e que ligassem
seus deuses aos elementos nela presentes . Diversas divindades africanas foram
tomando força na terra
dos brasileiros. O fetiche, marca registrada de muitos cultos
praticados na época, associado à luta dos
negros pela libertação e sobrevivência, à formação dos
quilombos e à toda a realidade da época acabaram
impulsionando a formação de religiões muito praticadas atualmente - a Umbanda
e o Candomblé.
Umbanda
Uma das religiões mais praticadas no Brasil, com maior propagação na Bahia
e no Rio de Janeiro, a Umbanda brasileira começou a ser formada por volta de 1530,
com a mistura de concepções religiosas trazidas pelos negros da África, na época da
escravidão. O primeiro terreiro foi fundado em 1908 através de Zélio Fernandino de
Moraes. Na época com 17 anos, Zélio, que fazia parte de uma família tradicional de Niterói,
RJ, incorporava o chamado Caboclo das Sete Encruzilhadas e foi o responsável pela
formação de sete tendas que acabaram difundindo a Umbanda. Todas as tendas funcionavam
sob o lema: "manifestação do espírito para a caridade" e usavam rituais simples com
cânticos baixos e harmoniosos.
A Umbanda incorpora os adeptos dos deuses africanos como caboclos,
pretos velhos, crianças, boiadeiros, espíritos das águas, eguns, exus,
e outras entidades desencarnadas na Terra, sincretizando geralmente as religiões católica
e espírita. O chefe da casa é conhecido como Pai de Santo e seus filiados são os filhos ou filhas
de santo. O Pai de Santo principia a cerimônia com o encruzamento e a defumação dos
presentes e do local. Seguem-se os pontos, cânticos sagrados para formar a corrente e
fazer baixar o santo.
Muitos são os orixás invocados na cerimônia de Umbanda, entre eles Ogun, Oxóssi,
Iemanjá, Exu, entre outros. Também invocam-se pretos velhos, índios, caboclos, ciganos.
A Umbanda absorveu das religiões africanas o culto aos Orixás e o adaptou à
nossa sociedade pluralista, aberta e moderna, pois só assim um culto ancestral
poderia renovar-se no meio humano, sem que a identidade básica dos seus deuses
fosse perdida.
Deuses
Conheça um pouco mais sobre os principais personagens que compõem a religião negra.
EXU: De personalidade considerada atrevida e agressiva, o Exu, é
o senhor dos caminhos que levam e trazem, fazendo as pessoas se
aproximarem ou se distanciarem. Cada um tem seu próprio Exu,
assim como todo o terreiro, que usa essa figura para proteger e
zelar pela segurança da casa, do pai de santo e dos freqüentadores da
entidade. O Exu não deve ser subestimado, pois se presta ao papel de
servo em nome de uma recompensa que pode ser dinheiro, bebida
alcóolica ou animais sacrificados. Ele representa o símbolo máximo
da sensualidade e da voluptuosidade desenfreada. Com muito senso
de humor, brinca e possibilita prazeres aos seres humanos, quebrando
com suas próprias normas, os tabus de nossa sociedade. Tudo isso faz
com que ele seja tanto amado quanto odiado.
Os filhos de Exu: extremamente raros, seus filhos precisam estar
sempre em atividade para poder liberar toda energia que possuem.
São astutos e ágeis, insolentes, imprevisíveis, sociáveis, provocantes e
briguentos. Destacam-se por sua sensualidade, inteligência e dinamismo.
Adorno: Ógo (um tipo de bastão feito e esculpido em madeira).
Colar: Azul-arroxeado.
Vestes: Azul, branca e vermelha.
Saudação: Larôye, Exu!
Oferenda: Farofa com dendê, feijão, inhame, água, mel e aguardente.
OGUM: Conhecido no Brasil como deus guerreiro, sendo identificado
como São Jorge, foi uma das primeiras figuras do candomblé a ser
incorporada por outros cultos. Quando irado é vingativo e, quando
apaixonado, é sensual. O elemento principal de apetrecho de Ogum é o ferro,
que lembra sua condição de ferreiro e metalúrgico, fazendo dele uma divindade da defesa
e do ataque, que luta com prazer e que tem sede de conquista do poder. Dono
da espada e da faca, está presente com sua simbologia em todas as cerimônias
e no cotidiano da vida.
Os filhos de Ogum: A companhia dos amigos e a sensualidade são
essenciais para eles. A rotina os arrasa, pois além de dinâmicos,
são arrebatadores. Aparentemente são calmos, mas, na realidade,
escondem dentro de si toda a impetuosidade do guerreiro violento e devastador.
Normalmente curiosos e demasiadamente francos, às vezes chegam à falta de tato
. Não gostam de perdoar, nem de perder, o que para eles tem o sabor de uma
derrota ocorrida num campo de batalha.
Adorno: Espadas e peças, tudo em ferro.
Colar: Azul-escuro ou verde.
Vestes: Azul, vermelha ou verde.
Saudação: Ogunyê!
Oferenda: Feijoada, xinxim, inhame.
XANGÔ: É o representante da justiça espiritual e o mais solicitado
nas pendências judiciais. Tido como herói divinizado, Xangô é
ambicioso e tem obsessão pelo poder. Seu alvo é castigar os
mentirosos e os malfeitores, não admitindo a contestação de suas atividades.
Os filhos de Xangô: eloqüentes, sociáveis e bons ouvintes, mas
gostam sempre de dar a última palavra, mostrando que também
são autoritários. Contraditórios, são aristocráticos, libertinos e infiéis
em seus relacionamentos. Volúveis, esquecem rapidamente as paixões
passadas. Estão sempre envolvidos em novas aventuras e a paixão atual
é sempre a maior, a única, a verdadeira.
Adorno: Oxé, machado duplo de dois cortes laterais, feito e esculpido
em madeira.
Colar: Vermelho e branco em contas alternadas.
Vestes: Vermelha, branca e marrom.
Saudação: Káwo-kabiesile!
Oferenda: cerveja escura, vinho tinto doce, licor de ambrósia.
OXALÁ: Criador dos homens, obstinado e independente, é identificado,
no Brasil, como Jesus Cristo sendo cultuado como o senhor de todas
as coisas e do universo. Oxalá, que é visto como o senhor do silêncio,
do vácuo frio e calmo, no qual as palavras não podem ser ouvidas, está
ligado a todas as etapas da vida, desde a criação até a morte. Lento
como caramujo, todo de branco, como seu ritual exige, é conhecido
como Oxalufan. Enérgico e guerreiro, de colar branco com azul real,
é Oxaguian. Em todas as versões é Orixanlá e em todas as situações
é Obatalá, rei do pano branco.
Os filhos de Oxalá: quando sob a influência de Oxalufan, são calmos
tranqüilos, relacionando-se com equilíbrio e tolerância com pessoas
, mesmo nos momentos mais difíceis. Amáveis e prestativos, são
voltados para a espiritualidade, sabedoria e domínio da situação.
Quando dos os poderes de Oxaguian, assumem seu lado guerreiro e valente,
de caráter romântico e vigoroso. Ágeis e combativos, chegando a ser geniosos,
às vezes são calados, galantes e majestosos, transmitindo altivez.
Adornos: Opaxorô, um grande cajado enfeitado, feito com prata ou
metal branco, quando Oxálufan, uma espada e mão de pilão também em
metal branco, quando é Oxaguian.
Colar: Oxalufan, branco-opaco e Oxaguian, branco salpicado com azul real.
Vestes: Branca.
Saudação: Epa baba!
Oferenda: frutas, coco verde, mel.
IEMANJÁ: Seu nome significa mãe dos filhos-peixes.
Originária do rio Ogun, na Nigéria, tem seus domínios
nas profundezas das águas, de onde emerge para atender
seus devotos, principalmente as mulheres que atribuem a
ela poderes que favorecem a fertilidade e a fecundidade. É
maternal, sempre pronta para amamentar as crianças sob
seu domínio, mas também sabe ser belicosa, mantendo-se de espada
em punho para defender seus filhos e seus direitos.
Os filhos de Iemanjá: são autoritários, persistentes, preocupados,
responsáveis e decididos. De personalidade amiga e protetora chegam
às vezes, quando mulheres, a se comportar como supermães. São
agressivos e até traiçoeiros, quando a segurança dos filhos e da família
está em jogo. São faladores, e não gostam da solidão.
Adorno: Um leque.
Colar: Cristal transparente.
Vestes: Branco e prata.
Saudação: Odo Iyá.
Oferenda: champagne, calda de ameixa ou de
pêssego, arroz doce e melão.
Espero que estas informações saciem um pouco a sede de um
melhor conhecimento sobre esta religião tão amada e tão incompreendida que é a Umbanda.